domingo, 7 de setembro de 2008
No Sound - O Cérebro e a Música
Posted on 17:54 by FHAE
Tudo bem que se prometeu que aqui não se falaria de música no primeiro artigo desta secção, contudo este terá uma pitada de ciência se bem que ligado à música. Este artigo que de seguida vai ser apresentado é da autoria de Nuno Consciência, um psicólogo que terminou o seu curso no ISPA e na tese por si defendida relacionava Psicanálise, Música e Criatividade. Aqui fica então o artigo que eu próprio não explicaria melhor.
"Será importante a música que está a ouvir neste preciso momento? A música pode ser vista como um espelho da alma. Os Korn, no tema "Twisted Transistor", dizem que a música nos compreende mesmo que mais ninguém o faça. Duvido que não tenhamos já todos sentido isso. Procuramos no som um reflexo, um condutor para o que sentimos. Se o que estiverem a ouvir for música mais ritmada, sons mais leves, revela um estado de espírito mais alegre. Se estivermos deprimidos, procuramos ritmos mais lentos e prolongados, se estivemos revoltados, procuraremos ritmos mais fortes e pesados.
Existe um conjunto de vivências que nos direcciona na procura de um ou outro género musical como estilos pessoais, e músicas específicas em momentos particulares. Quem somos é revelado pelo estilo de música que mais frequentemente procuramos. Por exemplo, quem ouve por regra Bob Marley, provavelmente encontra-se num momento diferente de quem por regra ouve Iron Maiden.
Estas nossas escolhas são feitas tendo como objectivo libertar emoções provenientes das situações que vivemos. A músicas tem uma função catástica: as tensões que são produzidas e reprimidas podem ser libertadas nas emoções musicais onde, de outra forma, permaneceriam reprimidas, podendo pôr em causa a nossa saúde mental.
De facto, desde sempre vivemos num mundo essencialmente sonoro. Já na vida pré-natal a audição supera largamente qualquer dos outros sentidos. A voz da mãe direcciona o mundo emocional do bebé, e o bater do coração materno é o primeiro ritmo que vivemos intensamente. Claro que, nos primeiros tempos de vida, não entendemos nem nos interessa o significados das palavras. No entanto, conseguimos sempre responder de forma eficaz aos estímulos sonoros de que somos alvo. E porquê? Porque desde sempre somos sensíveis a variações sonoras. É crucial que consigamos entender pequenas variações no humor da mãe, por exemplo. Assim sendo, não respondemos ao conteúdo semântico do som, mas sim a vários componentes como a intensidade, duração, ritmo, timbre e tom. Estes estão mais próximos de uma comunicação pura do que o conteúdo semântico das palavras, um código que foi construído pelo Homem em cima da pureza do som.
A origem pré-verbal da linguagem musical explica a sua universalidade, a sua capacidade de atravessar fronteiras, culturas, épocas, e barreiras linguísticas. Não temos dificuldades em perceber o sentimento de uma música independentemente do seu estilo ou país de origem, que nos seja familiar ou não - pois toda a música preenche este requesito básico de focar ritmos e princípios do ser humano que estão presentes ao nível mais primário.
O nosso aparelho mental consegue adaptar-se à estimulação musical ao perceber que esta tem um início e um fim, que a música é feita por um sistema organizado de tons, com um ritmo reconhecível. Repetição de passagens que já ocorreram, a familiaridade de forma e estilo na composição, e o uso de instrumentos familiares ajudam-nos a dominar esta experiência. Um aumento de tensão é criado pelo movimento musical quando este ganha uma sonoridade diferente e inesperada, mas, como consequência, o movimento musical é recebido com mais prazer ainda, quando volta a uma sonoridade que nós esperamos. Assim sendo, o domínio sobre a ameaça de ser atacado por sons (o instinto primitivo de defesa) passa a ser uma actividade de diversão para a nossa mente, o que contribui para o prazer relacionado com ouvir música.
Desta forma, podemos antever a música com expectativas - e, quando a realidade se aproxima dessas expectativas, sentimos o prazer da antecipação concretizado. Claro que, se por causa da complexidade da música, o seu conteúdo não puder ser dominado, a exposição à música torna-se desagradável.
Esta realidade pode ser ilustrada com qualquer tipo de música, havendo bandas que brincam mais claramente com estas tensões. Diria que é bastante importante o que está a ouvir neste momento - é importante que deixe fluir os ritmos que procura de uma banda-sonora para a sua vida."
Fonte: Blitz Nº 19
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