sábado, 2 de maio de 2009

Conversa Descabida - Nuno Saraiva

Posted on 06:42 by FHAE

Quem Vem Lá? É o Nuno Saraiva, o nosso primeiro leitor a alcançar a pontuação necessária, no desafio mais fascinante alguma vez criado pelo "The Sound Of Music", para escolher um artista da semana. Nuno Saraiva tem 32 anos, é contabilista e encontra-se a tirar um mestrado. Tendo contacto directo com o mundo musical através das bandas filarmónicas, Nuno fala-nos da importância do 25 de Abril, afirma que os Humanos foi a melhor banda de tributo a um artista português criada até agora, que Barack Obama um dia poderia vir a ser canonizado e ainda nos diz porque é que escolheu os Black Eyed Peas como artistas da semana. Porque a curiosidade matou o gato, o melhor é mesmo ler a entrevista que se segue.

Conversa Descabida: Antes de mais muito obrigado por teres aceite o nosso convite. Preparado para o que vem aí?
Nuno: Não. De forma alguma. Como se pode estar preparado para estes complicadíssimos questionários?

Conversa Descabida: Complicados? És a primeira pessoa que nos diz isso! Mas vamos às perguntas. Comecemos pela pergunta que mais nos intriga. Sendo tu o primeiro vencedor do Quem Vem Lá, porquê a escolha de uma banda como os Black Eyed Peas?
Nuno: A escolha teve em conta duas coisas: Primeiro o público do auditório e depois o meu gosto pessoal. Há bandas das quais gosto mais, mas não sendo tão conhecidas, ou não tendo ainda uma carreira longa, não seriam adequadas para o destaque de uma semana.
Escolhi BEP, por serem uma banda dos anos 80, fiel ao seu próprio estilo, e por ser uma música, que mesmo tendo algum protesto nalgumas letras, é muito positiva, e dançável.


Conversa Descabida: E quem é que teve uma carreira a solo mais louvável: Fergie ou Will.I.Am?
Nuno: Hum… É sempre uma comparação difícil. Apesar de serem carreiras distintas, acho que Will.I.Am ficou um pouco por cima. Isto não só como cantor, mas porque esteve ligado a várias produções, incluindo o primeiro álbum de Fergie. Fica a sensação que Will ficou com a herança de BEP, Fergie tentou separar-se para tentar ter poder de decisão mas não conseguiu. A sua imagem está ligada a BEP, e aquele estilo inconfundível. Em suma, para mim, Will.I.Am e BEP confundem-se um pouco..

Conversa Descabida: Passou pouco tempo desde as celebrações dos 35 anos do 25 de Abril. Como achas que estaria Portugal se ainda continuássemos no regime do Estado Novo?

Nuno: Lixado…(risos) Estaria com toda a certeza pior. Possivelmente não tínhamos acesso à internet mundial. Não podíamos falar, não podíamos fazer quase nada. Um regime como o que se viveu no passado nos diversos países da Europa, não faz qualquer sentido. Como já diversas vezes foi citado: A democracia é um péssimo sistema político, mas é o menos mau.

Conversa Descabida: Mas não achas que de vez em quando fazia falta existir um Salazar para impor um pouco de ordem e respeito no país?
Nuno: Não. Um país é feito por todos, e as pessoas que comandam os destinos do país, escolhidos por todos. Devia haver era Leis mais rígidas, penas mais pesadas, e uma verdadeira aplicação da Lei. Disso precisamos, não precisamos de alguém que obrigue a ordem e respeito, espalhando o medo, retirando o direito de defesa, não permitindo crítica, proibindo a chegada de informação às pessoas. Proibindo o desenvolvimento de uns, para que não saiam do poder. Acho que pessoas que por vezes pensam que atitudes mais repressivas dos governos é idêntico a regime de Salazar, estão redondamente enganadas. Não deve acontecer, mas são coisas muito diferentes. Hoje, Sócrates processa jornalistas; Salazar, tratava-lhes da saúde.

Conversa Descabida: Essa tua última frase certamente ficará como um marco no historial da Conversa Descabida. Que música associas de imediato à liberdade?
Nuno: Infelizmente, os grandes músicos de protesto, ficaram todos associados a um único partido e à esquerda menos moderada, o que faz perder um bocado do impacto, em relação ao que sinto. É óbvio que o “Grândola Vila Morena”, é forçosamente associado, ao dia da revolução, acho pena que se tenha tornado quase um hino do PCP. Quem não se enquadra na ideologia do PCP, ficou quase sem música de liberdade. O "E depois do Adeus" também é associada e é uma bela música.

Conversa Descabida: É um facto que o “Grândola Vila Morena” ficou associada, mas nem por isso deixa de fazer parte da boa música portuguesa. Mudando o tema para algo também recente. Concordas com a canonização do teu homónimo Nuno Álvares Pereira?
Nuno: Sim, concordo. Independentemente do milagre ou não milagre, o conceito de Santo está demasiado mistificado na cabeça das pessoas. Os Santos são pessoas, qualquer um de nós pode ser, se tiver talhado para isso. Assim, neste contexto, o facto de D. Nuno Álvares Pereira, um dos homens mais rico de Portugal, se despojar de todos os seus títulos e doar os seus bens à Igreja, aos pobres, à família e aos antigos companheiros de armas, dedicando-se o resto da sua vida à religião, é motivo mais do que suficiente, para a canonização.

Conversa Descabida: Achas que algum dia teremos um político ou outra figura pública a ser tornado num santo?
Nuno: Sim, o Manuel Luís Goucha…No actual panorama e estilo de vida, não me parece…A ser, penso que o grande candidato é Barack Obama, mas ainda tem muito que provar. Principalmente quando houver tensões diplomáticas, e possibilidade de Guerra.

Conversa Descabida: Que década te fascina mais a nível musical: 50, 60, 70, 80, 90 ou os anos 00?
Nuno: Os anos 90 foram grandes. Houve uma grande abertura musical, em que as pessoas ficaram com uma maior amplitude no gosto musical. As baladas, o heavy-metal, o pop, dos outros anos, não me diz muito, ouve-se, tem boas músicas, mas não me fascina (só o ska e algum reggae). Os anos 00 têm a grande diferença das coisas terem sido muito mais bem trabalhadas pela tecnologia e pelas escolas de canto. Há muitos meios técnicos hoje em dia o que permite grandes resultados finais nos álbuns. Resumo: Anos 90 pelo impacto que teve na minha juventude, anos 00 pela qualidade alcançada.

Conversa Descabida: Certamente que sabes da onda de tributos que tem havido nestes últimos tempos a artistas portugueses. Tudo começou a ganhar relevo há uns tempos com os Humanos, em tributo ao Variações, depois seguiu-se o Carlos Paião, e agora Amália e Zeca Afonso. Do que já ouviste até agora, quem é que se tem saído melhor?
Nuno: Ainda não conheço este recente do Dr. Zeca Afonso. O da Amália, surpreende pela originalidade. O do Carlos Paião está muito bem cantado, mas continua a "cheirar" a anos 80, é mais como uma boa recordação. O dos Humanos, é a melhor na minha opinião. As músicas parecem ser totalmente actuais. O facto de serem três vozes tão diferentes a cantar músicas dum único cantor, ajuda. E as músicas ficaram todas muito boas. É um dos álbuns portugueses da década, sem dúvida.

Conversa Descabida: Quem é que achas que está a faltar tributar, para se juntar a este leque de grandes nomes?
Nuno: Assim, de repente, portugueses, acho que o Carlos do Carmo merece, possivelmente mesmo em vida. Dos que já partiram não me estou a lembrar de mais ninguém…Daqui a uns 20 anos, um tributo a Rui Veloso ou Xutos, vai dar um álbum formidável.

Conversa Descabida: Ouvimos dizer que a Maya vai posar para a revista masculina FHM. Estás curioso para saber o resultado?
Nuno: Por acaso estou. A Maya com base em diversos tratamentos/intervenções, consegue manter um aspecto agradável. Por acaso via numa festa há cerca de dois meses, e realmente tem um aspecto de mais nova do que na realidade é. E depois, há o photoshop.

Conversa Descabida: E já que falamos no mundo das revistas masculinas e ninguém está a ler esta entrevista neste momento, o que achas da escolha de Claudia Jacques para 2º capa da Playboy portuguesa?
Nuno: Acho normal. Acho que a Playboy não está a conseguir seguir o caminho da sua "revista mãe". Eu esperava da Playboy que conseguisse capas com pessoas que nunca mostraram tendência para se expor. Mostrar fotos de pessoas que já anteriormente se expuseram na TV ou nas revistas já existentes não acrescenta nada ao panorama. Cláudia Jacques tem um corpo escultural, mas que quem gosta desse tipo de revistas, já viu na Maxmen.

Conversa Descabida: Que música ficaria bem como banda-sonora para uma publicação como esta?
Nuno: “Sex Bomb” do Tom Jones, para os mais atrevidos. “She”, do Elvis Costelo, para os Nerds e Bimbos que se apaixonam pelas miúdas das revistas…(risos)

Conversa Descabida: Para terminar, a perguntas do costume. Estás entre a espada e a parede e tens de nos dizer apenas e somente as 10 músicas da tua vida. Qual é a tua escolha?
Nuno: Isso é tão difícil. Precisava de meses para pensar nisso...Guns n´roses – “Dead Horse”, Nirvana – “Come as you are”, Bloc Party – “Banquet”, Da weasel – “Doía”, Superman lovers – “Starlight”, André Sardet – “Pássaro Azul”, NoFX – “Play this song on the radio”, Michael Bublé – “Feeling Good”, Michael Bublé – “Smile” e Amy Winehouse – “Monkey Man”.

Conversa Descabida: Muito obrigado pela tua colaboração!
Nuno: De nada, é sempre um prazer colaborar com quem faz algo pela cultura, com empenho e prazer…

Bloc Party - "Banquet"

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